Por Arthur Nóbrega
Nos dias 19 a 26 de julho ocorreu
na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) o Encontro Nacional dos/as
Estudantes/as de Comunicação Social (ENECOM) com o tema: Educação às Avessas: da Formação que temos à Comunicação que queremos.
A programação desse evento consistia desde palestras, oficinas, minicursos,
manifestação a núcleos de vivências em comunidades ribeirinhas, vila de pescadores/as e
projetos sociais em Maceió, entre outros.
Dentre as atividades, fui convidado
para compor uma mesa de discussão sobre Diversidade Sexual e Educação. Dentro
do tema proposto pelo evento, me propus a problematizar a concepção educacional
que possuímos correlacionando com a postura política, sobretudo, a de combate à
homolesbotransfobia, racismo e machismo, isto é, considerando Educação como
política e vice-versa.
A partir disso, com mais intenção
de tornar frágeis as certezas do que consolidar alguma resposta em definitivo, denuncio
a necessidade de (re)inventarmos a Educação e a Política, frente à subrepresentatividade,
pois em ambos os campos de poder, LGBT’s, mulheres, negros/as não são, ao todo,
bem queridos/as. Assim, o educar, o fazer ciência e estar inserido/a nas
decisões políticas precisam ser modificadas.
Foto: Kelvin Yule |
Nessa perspectiva, me apoio na
crítica epistemológica levantada pela perspectiva queer, em especial às levantadas por Judith Butler, e a noção de
poder do francês Michel Foucault. A quem
serve o seu discurso? Eu perguntava aos/às encontristas. De que lugar vocês falam? Insistia!
A quem a ciência positivista serve? Que relações de poder escondem
dentro de seus métodos e do modo de produzir saber científico? Talvez essa
seja a questão central de minha fala naquele dia. Foucault já alertava sobre o
saber/poder da ciência e o perigo de estar dentro da ordem do discurso.
Relaciono, portanto, o educar,
politizar e cientificizar à alteridade antropológica. Há a necessidade de saber
o local de nossa fala e reconhecer o do/a outra/a, com seu campo de
significações, leituras do mundo e sua lógica de tornar o mundo legível. Assim,
qualquer tentativa de homogeneizar e hierarquizar visões sociais e culturais,
nesses campos de saber/poder é postura etnocêntrica.
Nesse sentido, problematizei o
fazer Ciência, Educação e Política pensando a lógica binária, heteronormativa,
que busca uma neutralidade axiomática. Isto é, pedir a retirada de trajetórias
de vida e suas leituras valoradas do mundo não é tornar esses três campos
inumanas? Ser humano/a não envolve o sentir, o significar?
Foto: João Santana |
(In)concluo a fala naquele
evento, seguindo a (i)lógica proposta nas reflexões, alertando que comunicar é
se posicionar no mundo, participar dele, inclusive politicamente e
educacionalmente. Assim, pessoalmente e situado num lugar de um estudante de
ciências sociais por uma Universidade pública, branco, gay, cisgênero, sem
deficiência, que façamos comunicação, ciência, política e educação mais
afetiva, humana, não-binária e considerando a alteridade como primordial para
equidade e justiça social.
Que nós, estudantes/as façamos do nosso local de
dentro da Ordem do Discurso (agora talvez entenda a dor do Foucault em sua
conferência) um instrumento para transformar, transbordar e trans-bordar uma
nova realidade social. Como disse Clarice Lispector outrora em um conto “Se
você fosse você, o que faria?”.