quarta-feira, 11 de julho de 2012

A linguagem nos faz humanos


Autor: EVERETT, Daniel


A linguagem nos faz humanos
O linguista que contraria as teses de Noam Chomsky diz que o dom da fala não é inato, mas produto das vantagens evolutivas da comunicação e dos valores culturais de cada povo 

Entrevista com Daniel Everett

Professor da Universidade Bentley, em Boston, o americano Daniel Everett, originário do Massachusetts Institute of Technology (MIT), é um dos mais prestigiados linguistas e etnólogos do mundo. Everett passa boa parte do ano em pesquisas de campo na tentativa der obter resposta aos mistérios de como e por que o homem foi o único ser vivo a adquirir o dom da fala e decifrar que mecanismos tornaram possível a conquista da linguagem. Em seu sexto livro, Language: The Cultural Tool (Linguagem: a ferramenta cultural), que será lançado na próxima semana nos Estados Unidos, Everett define a linguagem como um artefato criado e moldado pela cultura, pela cognição e pelo instinto de se comunicar dos seres humanos. Ele concluiu que a humanidade só sobreviveu em sua espinhosa caminhada evolutiva e chegou ater conseguido se equipar com a sua linguagem. Suas descobertas constituem um aberto desafio à noção mais aceita até agora, de autoria de Noam Chomsky, segundo a qual gramática, e portanto a linguagem, é um atributo físico inato do cérebro humano - teoria que coloca todo o peso da especificidade humana na genética. 

Em seu livro, o senhor redefine o conceito de linguagem. O que essa abordagem tem de novo?

Durante cinco décadas, os linguistas seguiram a teoria da gramática universal, concebida por Noam Chomsky. De acordo com essa teoria, a gramática e a linguagem são inatas ao ser humano e já vêm programadas no cérebro. Acho essa ideia ridícula. Nunca houve provas de que existem estruturas em nosso cérebro ou em nosso DNA que nos autorizem a dizer que a linguagem é hereditária. O célebre gene FOXP 2, que por um tempo foi classificado como o gene da linguagem e prova da gramática universal, tem na verdade múltiplas funções. Ele atua no desenvolvimento dos pulmões, dos controles dos músculos da face e define mais uma dezena de funções no organismo. O FOXP 2 tampouco é exclusivo do homem. Os ratos, alguns pássaros e outros animais têm esse mesmo gene.

Chomsky não deve ser levado a sério? 

A verdade é que Chomsky não é geneticista, nunca fez pesquisas com biologia humana. Ele pôs de pé uma suposição ilusória e sem base nas evidências cientificas. É óbvio que todas as atividades humanas têm uma correspondência no cérebro. Quando algu6m empunha, por exemplo, um revólver, ocorre a ativação de determinadas regiões do cérebro cuja existência e função se devem a um ou mais genes. Isso não quer dizer que nascemos com um gene para o uso de armas. Significa apenas que nos valemos de nosso corpo e nosso cérebro para manipular essa ferramenta. O mesmo ocorre com a linguagem. Ela é uma ferramenta criada por nós, que foi desenvolvida com o uso da capacidade cerebral e corporal. 

Definir a linguagem como uma ferramenta e colocá-la na mesma categoria de uma arma não reduz sua complexidade? 

A linguagem não é apenas uma ferramenta. Ela é a ferramenta mais importante do homem. É ela que nos faz humanos. Pela fala e, depois, pela escrita, conseguimos formular pensamento e acumular conhecimento no decorrer das gerações. Um cachorro não pode saber como era o seu bisavô. O homem é o único ser que pode ter essa informação. Uma das maiores vantagens evolutivas da linguagem é a capacidade de reconhecer que um semelhante tem um cérebro como o nosso e pode pensar, como nós. A isso damos o nome de teoria da mente. Foi essa capacidade que nos possibilitou a comunicação. No momento em que um homem raciocinou que o outro perto dele tinha umamente igual, chegou à brilhante conclusão de que "ele pode me entender". Essa ideia básica, fundamental, está presente até hoje em todas as formas humanas de expressão. Foi somente a partir daí que conseguimos viver, plenamente em comunidade, que criamos a filosofia e a matemática, que inventamos demais ferramentas e nos constituímos em uma humanidade.

Chomsky tem poder político, O senhor não receia tê-lo como desafeto? Durante meu pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology, fui vizinho de sala de Chomsky. Até nos dávamos bem, já que eu ainda não tinha publicado minhas ideias contrárias à sua teoria.Há alguns anos, quando sua mulher morreu mandei-lhe uma mensagem de pêsames,destacando ainda que, apesar de nossas diferenças, eu reconhecia sua importância para o mundo acadêmico. Chomsky respondeu com simpatia, agradecendo. Mas publicamente agiu com rispidez, chamando-me de charlatão em uma entrevista. Isso me marcou muito porque mostra bem que tipo de pessoa ele é. Acredito que Chomsky só tenha conseguido esse poder que tem hoje de falar o que quiser mesmo mentiras, por sua atuação política, criticando os Estados Unidos. Graças a esse proselitismo, ganhou uma leva de seguidores e ergueu-se um muro de defesa em tomo dele. Recebo cartas desaforadas e e-mails violentos por discordar dele. Mas não posso deixar de defender o que acho correto. 

Por que a linguagem deu origem a tantos idiomas?

Nossas línguas são resultado deu ma combinação de três fatores: a "capacidade cognitiva do homem, a cultura dos povos e o que as sociedades querem comunicar". Nosso corpo estabelece os limites de como nos expressamos, a cultura define como falamos; e lemos e a vontade de nos comunicarmos determina o que queremos dizer. É uma relação dinâmica. Cada uma dessas peças influencia as outras. 

Como o senhor chegou a essa idéia? 

Ela fica evidente ao analisarmos como são estruturadas frases em diferentes idiomas. Uma frase em português com o verbo "dar", ou em inglês com o correspondente, "give", não por acaso tem três elementos: a pessoa que executa a ação, a ação e o receptor da ação. É possível somar outros elementos a esses. Em vez de dizer apenas "João deu o livro a Maria", podemos falar "Pedro disse que seu João deu o livro para a irmã de Maria dá-lo a Maria". Na língua dos piraãs tribo com a qual vivi na Amazônia, só a primeira frase é possível. Para esses índios, uma frase sempre se encerra em si mesma. A linguagem piraã se vale de sufixos que chancelam o grau de veracidade do está sendo dito. São três sufixos: um informa que "eu vi isso com meus próprios olhos", outro revela que "alguém me contou isso" e um terceiro atesta que "eu digo isso com base em evidências". Se você perguntar a um piraã "João deu o livro para Maria?", ele responderá "híai". Híaí não é um sim. Significa que ele ouviu de alguém que o livro foi entregue. Esse cuidado é reflexo de um valor cultural especialmente caro aos píraãs, Para eles, é indispensável que o interlocutor apresente provas do que está afirmando. Os píraãs têm outras estruturas que são resultado claro da influência da cultura. Eles não conhecem os números. Só conseguem mensurar as quantidades e os volumes em pouco ou muito. Para eles, saber contar claramente não seria uma vantagem evolutiva. Identificar com precisão cada animal e árvore da floresta era decisivo e, como resultado, os píraãs desenvolveram um complexo e vasto vocabulário sobre isso. 

Que influências da cultura o senhor identificou o português falado no Brasil ? 

O brasileiro usa muito a palavra jeito, que não possui correspondente em inglês, nem na maioria das outras línguas. Um brasileiro diz: "Esse é o jeito brasileiro". Isso não tem tradução para o inglês. Se um americano quiser dizer a mesma coisa, terá de construir uma sentença bem mais longa. A palavra "jeito" é usada com muitas outras acepções em português, que não existem em inglês. A palavra "malandragem" também requer malabarismos linguísticos complexos para ser vertida para outro idioma. Para aprender a língua de um povo, é preciso compreender sua cultura. A grande maioria dos lingüistas não se dá ao trabalho de ir a campo e se satisfaz estudando documentos em seus escritórios. Dessas torres de marfim é que surgem ideias mirabolantes como as de Chomsky, sem evidências concretas a embasá-las. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Todo mundo nu para as lentes de Spencer Tunick

Desde 1992, Spencer Tunick viaja o mundo fotografando pessoas despidas em público. México, Israel, Irlanda, Venezuela, Índia, França e mais um bucado de países fizeram parte do seu projeto, que no Brasil, teve o Parque Ibirapuera em São Paulo como cenário. Em cada cidade, Tunick escolhe um local, que pode ser urbano ou repleto de natureza, e nele cria uma instalação com os corpos nus de seus voluntários. Por mais polêmico que o seu trabalho possa parecer, Spencer não tem problemas em conseguir pessoas dispostas a tirar suas roupas e serem fotografadas. No México, por exemplo, 18 mil pessoas se inscreveram para posar e participar dos vídeos que Spencer faz e exibe junto com as fotos em suas exposições. Algumas de suas instalações acabam misturando arte com protesto, como a foto que fez em 2007 junto com ativistas do Greenpeace na maior geleira européia para mostrar a relação do ser humano com o clima e uma foto de 2011 feita no Mar Morto, com o intuito de retratar as condições precárias de cuidado do local.  O corpo nu, as belas paisagens, o número sempre crescente de pessoas fotografadas, as notícias que seu trabalho geram… tudo isso faz de Tunick um dos artistas mais falados da fotografia contemporânea. Mesmo trabalhando no mesmo projeto há 20 anos, ele consegue se renovar e criar imagens memoráveis por onde quer que passe. Dificilmente a obra de Spencer Tunick passaria despercebida!












Retirado:http://www.blckdmnds.com/todo-mundo-nu-nas-fotos-de-spencer-tunick/#more-33436



quinta-feira, 5 de julho de 2012

Mulheres de renome, mulheres renomeadas: as 'outras' da Antropologia




Resenha de: Luciana Gruppelli Loponte
Universidade de Santa Cruz do Sul


Antropólogas & Antropologia. 
Corrêa, Mariza. 
Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2003. 278 p.


Mesmo que não pertençamos à tradição do campo de saber chamado Antropologia, como é meu caso, o livro nos captura, principalmente para quem tem algum interesse sobre questões que envolvem as relações de gênero. A autora do livro traz à tona as histórias de três mulheres que ousaram de alguma forma destacarem-se em uma área (como tantas outras) de domínio quase exclusivo de homens. São elas, como define a própria Mariza Corrêa: "a ornitóloga [Emilia Snethlage] que deveria cair cativa do canto de um pássaro sedutor; a aventureira [Leolinda Daltro] que deveria se aventurar pelos sertões, de fato à procura de um homem, ou a diretora de museu [Heloisa Alberto Torres] que, solteira, deveria viajar com uma companhia masculina - jovem e inepta, mas masculina, de acordo com os relatos, históricos ou romanceados, de suas trajetórias..." (p. 14). O tom irônico desse trecho perpassa boa parte do livro, nos instigando a pensar sobre como essas vidas de mulheres foram narradas, como a linguagem que as nomeia está envolta de expectativas quanto aos comportamentos ideais para os gêneros. Um homem e uma mulher são narrados da mesma maneira? O que fazem essas mulheres nesse espaço público, espaço masculino por excelência? Onde elas 'deveriam' estar? Uma mulher sozinha pode ser uma antropóloga, ou ela pode apenas ser uma 'parceira etnográfica' de um homem?
A questão da linguagem, tanto nos relatos históricos como literários trazidos pela autora sobre essas 'mulheres excepcionais', atravessa todo o livro. A linguagem que narra essas mulheres está, sem dúvida, repleta de questões de gênero e sexualidade. É a sexualidade que está sempre em jogo quando se fala de mulheres que se destacam em um espaço no qual, segundo uma determinada ótica masculina, elas não 'deveriam' estar. Se elas ocupam esse espaço, deve haver outras razões que não exatamente as relativas a sua competência profissional. Se duvidamos de que a linguagem inscreve-se ou corporifica as diferenças de gênero, basta pensarmos nas definições de 'homem público' e 'mulher pública' em seu sentido mais comum. Ou ainda, como lembra Mariza Corrêa, no sentido que é dado aos homens antropólogos, denominados elogiosamente como 'aventureiros' em contraposição ao sentido negativo e de forte conotação sexual atribuído às mulheres antropólogas 'aventureiras', com um certo tom de desconfiança diante das reais intenções dessas mulheres que se aventuram em florestas ou entre os índios.
Como afirma a autora, a análise das narrativas sobre essas mulheres "parece explicitar que a sociedade é regida por lógicas distintas, que comandam o comportamento feminino de modo diferente do que comandam o comportamento masculino" (p. 15). Na história da Antropologia, como em outros campos de saber como a arte, por exemplo, falar de personagens masculinas difere-se radicalmente de como se fala das personagens femininas. O que vale para os homens nem sempre tem o mesmo peso para as mulheres.
O que é um nome?, pergunta Mariza Corrêa. Quem pode, afinal, ter um nome? Sem dúvida, ninguém desconhece a existência de Claude Lévi-Strauss, mas quem já ouviu falar de Dina Lévi-Strauss? Mulheres ao pé da página, a elas restam as notas de rodapé, escondidas sob o nome dos maridos. Mulheres renomeadas com o nome masculino. Dina e tantas outras aparecem para a história como esposas de, como apêndices de alguém. Apesar de estarem em campo com seus maridos antropólogos, e de serem inestimáveis auxiliares de pesquisa, seus nomes desaparecem à sombra do renome masculino. Renome pode significar um nome famoso ou um segundo nome, como os que adquirem essas mulheres ao se casarem, abdicando o seu próprio nome e, talvez, a sua própria identidade: "Ao serem assim renomeadas essas mulheres tornam-se então esposas em primeiro lugar - e são assim também consideradas" (p. 22).
Mulheres sozinhas, com seu nome próprio ou de alguma forma em busca de renome, enfrentavam muitas dificuldades para fazer pesquisa de campo na época aqui analisada, entre os finais do século 19 e os anos 40 do século 20. Ou elas eram legitimadas por fazerem parte da equipe profissional de seus maridos, contentando-se em ser dublês de pesquisadoras, ou eram malvistas pelos demais pesquisadores, na maioria homens.
Mariza Corrêa traz para essa discussão sobre gênero a questão da identidade, valendo-se principalmente das observações agudas de Donna Haraway. Qual a identidade dessas mulheres que assumem o nome do outro? Afirmar uma identidade, e uma identidade feminina, parece ser um contra-senso em um tempo de identidades fragmentadas. A identidade feminina, unificada, que tenha lugar em um 'nós' totalizador ou em uma coletividade homogênea, é pura ilusão. Não há uma essência feminina a ser buscada nos múltiplos modos de ser mulher: brancas, negras, índias, de classe média, de classe baixa, donas de casa, antropólogas, artistas ou tantos outros qualificativos que queiramos dar. Mas, quando se afirma uma identidade, é de lutas que se está tratando, como afirma Mariza Corrêa. Para Donna Haraway, essa seria uma luta por afinidades e não identidades. A afinidade supõe relação e não o mesmo, como o termo identidade sugeriria. Sem dúvida, o livro Antropologia & Antropólogas inscreve-se nessa luta por afinidades de mulheres de renome, mulheres renomeadas, mulheres sem nome próprio, mulheres ao pé da página. Aqui, é a Antropologia o cenário principal, mas podemos pensar, a partir daí, na quase invisibilidade das mulheres em qualquer outra área de conhecimento. Dessa forma, um livro como esse extrapola as discussões específicas da Antropologia, para inserir-se em uma discussão mais ampliada sobre as relações de gênero.
A questão da linguagem sempre foi uma questão importante para as estudiosas feministas. A problematização sobre o masculino genérico predominante na língua portuguesa, por exemplo, chama a atenção para a arbitrariedade e parcialidade da língua que usamos cotidianamente. Muitas vezes, no entanto, as pesquisadoras e os pesquisadores encontram soluções lingüísticas não muito agradáveis à leitura: 'os' e 'as' entre parênteses, o uso do sinal @ (pesquisador@s, por exemplo), que aparentaria uma certa neutralidade, ou até a alternância entre feminino e masculino durante o texto. Se temos certeza de que a linguagem deve ser de algum modo problematizada, porque nela se inscrevem as lutas de sentido e as diferenças de gênero, há muitas dúvidas ainda sobre qual a melhor maneira de expressar essa questão na construção de um texto. Mariza Côrrea trata essa questão de um modo sutil quando, por exemplo, faz um jogo de palavras com as palavras masculina/feminino ou feminina/masculino. Se nas oposições binárias mais correntes (masculino/feminino, branco/negro, rico/pobre, etc.) há quase sempre um peso maior no primeiro elemento, a inversão dessa polaridade e da própria flexão de gênero desestabiliza a leitura, nos fazendo pensar na construção cultural desses binarismos. As fronteiras entre essas categorias, aparentemente estanques, borram-se em um discurso que às vezes é andrógino, aparentemente neutro, mas que, ora enaltece as qualidades 'masculinas' dessas mulheres, ora desprestigia as suas qualidades ditas 'femininas':
Colocando-se ao lado de seus colegas profissionais, no entanto, e analisando suas trajetórias no contexto da época de cada uma, começam a emergir definições de feminina e de masculino explicitadas em disputas pelo poder, pelo prestígio ou por privilégios de vários tipos e pela atribuição a elas de um estatuto ambíguo, como se tratasse de seres andróginos a quem é preciso conjurar, desmentir, redefinir tão logo essa atribuição se expresse nos discursos a respeito de seus feitos científicos. Movimento de estranhamento, primeiro (que faz essa mulher num grupo de homens? Deve ser homem...), de re-alocação, em seguida (mas vejam que belo chapéu... feminino), logo de desqualificação (sendo mulher... não poderia ser cientista - ou vice-versa.) (p. 30).1
O livro mapeia a trajetória dessas mulheres exemplares, e a luta de produção de sentido em torno do que elas faziam, principalmente pelos seus interlocutores masculinos, procurando situá-las no contexto da atuação de outras mulheres contemporâneas na Antropologia em outros lugares do mundo. Essa luta semântica e política manifesta-se em termos literários e também nos relatos históricos sobre essas personagens: a naturalista Emilia Snethlage, a sertanista Leolinda Daltro e a pesquisadora de museu Heloisa Alberto Torres. A pergunta central, na análise dessas trajetórias, é: que diferença há em conjugar uma carreira no feminino? Há diferenças, sim, e isso é demonstrado ao longo de todo o livro. Diferenças essas que, via de regra, desvalorizam o trabalho feito por mulheres.
Outras questões emergem nos demais capítulos, como o entrelaçamento entre raça e gênero na política e teoria antropológica, e a atuação de outras mulheres na constituição da história da Antropologia. O livro Antropólogas & Antropologia demonstra um exaustivo trabalho de pesquisa, que se manifesta em detalhes minuciosos (que incluem notas extensas de cunho explicativo e teórico) sobre a vida dessas mulheres e as narrativas a elas associadas, nos fazendo ser capturadas por tais trajetórias e pela forma de narrar da própria autora. O livro (fugindo de qualquer tipo de vitimização ou essencialismo das mulheres) é, sem dúvida, uma importante contribuição para os estudos de gênero no Brasil.


1 Esses qualificativos que colocam em dúvida a competência profissional das mulheres não é uma exclusividade do campo da Antropologia. Ver, por exemplo, os comentários misóginos de artistas de renome sobre mulheres artistas. O artista francês Renoir teria dito: "Considero as escritoras, advogadas e políticas - como Georges Sand, Madame Adam e outras - como monstros, como terneiros de cinco patas [...] A mulher artista é sinceramente ridícula". Ou ainda Degas, sobre a artista impressionista americana Mary Cassat: "Não posso admitir que uma mulher desenhe tão bem!" (Citados por PORQUERES, Bea. "Reconstruir uma tradición: las artistas em el mundo ocidental". Cuadernos Inacabados, Madrid: Horas y Horas, n. 13, 1994.


Por: Carolina Albuquerque

quarta-feira, 4 de julho de 2012

FILME: "Lixo Extraordinário"




É do Brasil: Filmagem de Lixo extraordinário rendeu prêmios no Festival de Berlim e de Sundance.

A produção brasileira indicada ao Oscar na categoria melhor documentário estreou em Brasília na primeira semana de fevereiro (2011). O longa Lixo extraordinário, dirigido por Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley, mostra como o artista plástico Vik Muniz transforma o lixo do maior aterro sanitário da América Latina em obra de arte. A atitude beneficiou os catadores de material reciclado e rendeu ao filme prêmios no Festival de Berlim e de Sundance.


Trailer:



Segue o link para assistir o filme “Lixo Extraordinário”:



Retirado:http://antropologiasocial.com.br/


Por: Carolina Albuquerque

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Luke Duggleby e sua Antropologia Visual



Luke Duggleby é um fotógrafo britânico com uma licenciatura em fotografia pela Universidade de Gloucestershire. Atualmente morando em Bangkok resolveu investir em projetos pessoais na Índia, Indonésia, China e Camboja. Sua fotografia foi destaque no The Sunday Times Magazine (UK), The Independent on Sunday Review, Stern, a revista Monocle, TIME, The Telegraph, França GEO, GEO Alemanha, The New York Times, The Times (Reino Unido), entre outros.

Algumas das fotografias abaixo relatam rituais e/ou fatos cotidianos dos nativos destas regiões, como é o caso do Kathakali. Kathakali é uma das formas mais antigas de teatro do mundo. Originado da área do sudoeste da Índia, hoje conhecido como o estado de Kerala, é uma clássica “dança-drama” de e está enraizada na mitologia hindu..
Luke se aventurou pela região onde estas fotografias foram tiradas a primeira vez em 1999, e, ao longo dos anos retorna para documentar as pessoas e as culturas que o cativam por mais de uma década. Seu modo de documentar todo drama e beleza das diferentes culturas e povos desta região remete muito ao trabalho de antropólogos como Margaret Mead e Gregory Bateson.


Algumas de suas fotografias:
















Por: Carolina Albuquerque

Olhar fotográfico, o olhar Etnográfico


Por: Ondina Fachel Leal
A fotografia como a etnografia, é um aprendizado da observação paciente, de elaboração minuciosa de diferentes estratégias de aproximação com o objeto, de uma vigilância constante e de prontidão para captar o acontecimento no momento do acontecimento. A dupla capacidade da câmara de subjetivar e objetivar a realidade, de fazer distanciar-nos e aproximar-nos do objeto, nos dá uma consciência aguçada de que se é responsável por este processo de apreensão da realidade, de que se é sujeito de um ato de conhecimento.
O próximo e o distante, o exótico e o íntimo, categorias caras à antropologia, são noções intrínsecas ao fotografar porque referem-se ao íntimo do outro: o domínio do privado é aqui o domínio de uma alteridade e, chegar ao outro significa penetrar neste domínio.
O ato de fotografar nos traz uma noção de posse de realidade e, ao mesmo tempo, a certeza da impossibilidade desta posse. Apreendemos apenas fragmentos. Para que se produza uma imagem há a necessidade de reconstrução e de um processo de revelação de realidade. Captamos luz e sombras, brincamos com o tempo e congelamos o instante. Cria-se um tempo único: realidade imobilizada, imagem sempre roubada (ainda que o roubo tenha sido consentido) a ser exposta e consumida. Fotografar é aprender um olhar sobre o outro, este olhar é reificado em uma imagem, imagem esta que tenha o poder de captar olhares de outros outros. Que seria do fotógrafo se não contemplassem suas imagens? Fotografando, somos um olhar que busca olhares. O olhar capaz de seduzir outro olhar é sempre perturbador.
Fotografar é um cultivo didático do prazer da percepção do detalhe e do todo, que passa ou não pela técnica da objetiva, da grande-angular, do enfocar e do desenfocar, dos diferentes tons possíveis na impressão e, enfim, da revelação da imagem, que não é mais a coisa fotografada (mas plena de vestígios do real): é realidade revelada.

Texto apresentado e discutido na aula de Antropologia do Som e da Imagem ministrada pela Profa. Dra. Claudia Turra/UFPel

Retirado:http://antropologiasocial.com.br/


Por: Carolina Albuquerque



As contribuições da Antropologia para a biomedicina


Por Cátia Simone da Silva
Discente Bacharelado em Antropologia UFPel


Este trabalho foi desenvolvido na última prova presencial da disciplina de Antropologia da Saúde, no quinto semestre do curso de Antropologia da UFPel, ministrada pela Dra. Profa. Elen. Tínhamos que discursar sobre as contribuições da antropologia para a biomedicina.
As contribuições da Antropologia para a construção de um novo paradigma de saúde e doença está na forma como ela atua, observando que há uma construção social e cultural sobre como as pessoas vêem o seu corpo, sua saúde e doença, esta construção se dá por diversos fatores, faz parte da história de vida dos indivíduos, do ambiente em que vivem, da classe social que pertencem, sua idade, gênero, religião, e também da interação com outras culturas.
Então o objetivo da antropologia da saúde não é descrever o que é corpo, saúde e doença para um indivíduo ou um  determinado grupo, mas verificar como essas pessoas vivem e pensam sobre o seu corpo, sua saúde e sua doença; quais os cuidados que mantém, as formas de tratamentos utilizados em casos de enfermidades e quais as medidas que buscam para o tratamento, visto que há subjetividades no modo de conceber o corpo, então podemos dizer que tudo é uma construção, e essa não é fechada, acabada, mas está em constante processo de transformação e resignificação.
Como explica Marcel Mauss, o que a princípio parece ser uma escolha individual, na verdade são interesses coletivos que determinam como devemos ser, agir… Muitas dessas concepções culturais são transmitidos de geração a geração e outros a partir da interação entre as culturas influenciando como a pessoa irá utilizar o seu corpo.
Em várias culturas vemos exemplos diferentes de usos de técnicas corporais, pensando em alguns exemplos temos as chinesas que para diminuir o tamanho dos pés usam sapatos apertados os quais deformam os pés, tornando-os menores. Entre a Birmânia e a Tailândia as mulheres denominadas “girafas” usam um colar de latão que é uma peça única em forma de argola, os “anéis Tailandeses” servem para aumentar o pescoço, outro exemplo são as mulheres mais velhas na Papua Nova Guiné que amamentam leitões, e inclusive dormem numa peça junto com os mesmos.
Em Camarões na África, meninas passam semanas ou meses de dor para atrasar os primeiros sinais da adolescência, pois os seios começam a crescer na puberdade, então as mães e avós passam uma pedaço de madeira quente nos seios das meninas, acreditam que assim “elas não vão chamar a atenção dos homens”. Outros exemplos também encontrados aqui no ocidente são os aparelhos nos dentes, piercings, tatuagens… Podemos perceber que são todas práticas racionais das tradições locais, pois o modo como cuidamos de nossos corpos dizem um pouco de nós, mas também diz da cultura onde vivemos.
Assim a Antropologia da Saúde dentro do possível poderia contribuir não subsidiando, mas mantendo um diálogo com a biomedicina, os antropólogos fazendo etnografias, escrevendo artigos e produzindo pesquisas nas diversas àreas da saúde. Pois a biomedicina observa o corpo humano como órgãos fragmentados e não relativizam sobre o contexto do indivíduo e sobre a sua cultura.
Na biomedicina impera o etnocentrismo quando profissionais da área da saúde olham para um corpo como se esse pertencesse a uma única cultura,  a do profissional da saúde, e não levam em conta o contexto histórico, e sócio-cultural dos seus pacientes. Então a antropologia auxilia a biomedicina a observar outros aspectos que falam sobre a cultura e como  as pessoas pensam, usam e tratam o seu corpo.


Por: Carolina Albuquerque