domingo, 26 de fevereiro de 2012

Grupo de agricultoras se destaca com dança de coco no Cariri


Dedicando-se à música e à dança, o grupo tem conquistado crescente reconhecimento na região do Cariri

Crato. “Nessa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, o coco da Batateira está aqui para animar”. Cantando assim, um grupo composto por 16 agricultoras, com idades entre 59 e 73 anos, privilegia quem as vê dançar coco e cantar as toeiras e versos feitos pelas mestras da comunidade do Bairro da Batateira, em Crato. Fundado em 1979, o Grupo de Mulheres do Coco da Batateira encanta pela vitalidade e entusiasmo em mostrar um pouco da tradicional cultura popular da região do Cariri.
Dividido em uma representação de damas e cavalheiros, na qual sete brincantes trajam-se de homens e outras sete vestem roupas de mulheres, que se assemelham às usadas pelas quebradeiras de coco, elas reúnem-se semanalmente para dançar, cantar e contar suas histórias de vida, seus problemas do cotidiano. Todas as integrantes do grupo se conheceram na época em que cursavam o antigo Mobral, como era chamada a alfabetização de adultos na década de 70.
A partir das comemorações escolares pelo Dia do Folclore, elas começaram a idealizar o grupo, que permanece unido até hoje. Ao longo dos anos, as reuniões foram se tornando frequentes. Inicialmente, sem o apoio dos maridos, mas incentivadas pela Associação das Mulheres do Crato, o Grupo de Mulheres do Coco da Batateira cresceu, agregou novas integrantes e, junto com a comunidade, elas conseguiram conquistar espaço no cenário da cultura popular regional.
Hoje, o reconhecimento tomou proporções que as próprias brincantes não esperavam receber. O grupo já foi objeto de estudos de pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Pernambuco.

Falta de apoio
Mas, apesar da importância que o grupo exerce no fortalecimento da cultura popular, ainda falta apoio e incentivo para que as atividades continuem acontecendo. Sem recursos, o grupo sofre prejuízos por não poder realizar as reuniões e apresentações com a frequência desejada.
Atualmente, o problema já compromete até a existência do grupo. Mesmo sendo filiado à Fundação Mestre Eloi Teles de Morais, que realiza trabalhos voltados para o fortalecimento do folclore no Município, o Grupo de Mulheres do Coco do Batateira sente-se desprestigiado pelos órgãos que coordenam as atividades culturais.
Apesar de o Município dispor de um Centro Cultural, os grupos de cultura popular ainda recebem pouco apoio. Para elas, as dificuldades ficaram mais fortes, principalmente, após a morte de Eloi Teles de Morais, que foi um líder cultural, poeta, radialista e folclorista, de grande atuação nas manifestações artísticas populares que aconteceram na cidade. Sua figura esteve, durante mais de 30 anos, ligada à representatividade dos grupos de cultura popular. Sem ele, as apresentações das Mulheres do Coco da Batateira em eventos públicos e privados diminuíram. Em todo o ano de 2011, o grupo realizou apenas seis apresentações. Já este ano, elas ainda não receberam nenhum convite.
Para a líder e uma das fundadoras do Grupo de Mulheres do Coco da Batateira, mestre Edite Dias de Oliveira, é preciso haver mais apoio por parte da Secretária de Cultura do Município aos grupos de cultura popular, para que eles voltem a ter o mesmo brilho de antes. “Quando a Fundação Mestre Eloi Teles estava sob o comando de Cacá Araújo e de Elioná Teles, as Mulheres do Coco estavam constantemente nas apresentações em eventos. Agora, a gente quase não é lembrada. Não temos transporte e nem renda para fazer as fantasias, as vezes nem água nós oferecem, mas mesmo sem nenhuma remuneração gostamos de nós apresentar e fazemos isso por amor”, diz.
O maior sonho do Grupo de Mulheres do Coco da Batateira é conseguir o terreirão de ensaio, que por várias vezes foi prometido e jamais doado. Os ensaios das danças são feitos nos quintais das residências das integrantes do grupo. Elas planejam arrecadar verbas para a compra dos instrumentos necessários para acompanhar os versos e toeiras, pois dos quatro instrumentos, elas só dispõem de um, que é um pandeiro doado pelo mestre Eloi Teles. Elas esperam que as autoridades entendam a importância da cultura e estimulem os grupos a continuarem suas práticas, que geralmente são repassadas entre as gerações.
O Grupo de Mulheres do Coco da Batateira deu origem a grupos mirins de coco, formados pelos filhos e netos das brincantes.
Composição
16 agricultoras da região do Cariri compõem o grupo de Mulheres do Coco da Batateira, que se reúne semanalmente para cantar, dançar e contar histórias de vida.
7 mulheres do grupo se trajam como cavalheiros, enquanto outras 7 se vestem como damas, em uma das apresentações desempenhadas pelas brincantes.

Legado Cultural
“Se antes de morrer, eu conseguir deixar um terreiro todo equipado para os jovens, eu morro feliz”

Edite Dias de Oliveira
Mestre do grupo

“Quando não tem apresentação, os ossos endurecem, a mente esquece os versos. Temos saudade dos eventos”

Zenaide Matos Silva
Mestre de toeira

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quilombolas ganham reconhecimento legal pela 1ª vez no Ceará

O próximo passo é a desapropriação de não-quilombolas das cinco comunidades contempladas

Limoeiro do Norte O Ceará obteve, neste mês, a primeira legitimação dos processos de reconhecimento e delimitação de seus territórios quilombolas. É um marco na luta de comunidades remanescentes de quilombos. A partir de agora, não se pode mais contestar que cinco comunidades nos Municípios de Horizonte, Pacajus, Tamboril, Araripe e Salitre são quilombolas e, portanto, originárias de comunidades de negros fugidos durante a escravidão.

O reconhecimento foi assinado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e publicado no Diário Oficial da União (DOU). O próximo passo é o processo de desapropriação de não-quilombolas das áreas. Em todo o Ceará, há 26 territórios em processo de reconhecimento quilombola.

Há muito já se sabe da presença de comunidades quilombolas no Ceará, mas esta é a primeira vez que se chega ao estágio de legitimidade que aponta, de forma incontestável, o fato de um determinado povo ser quilombola. Foi o que aconteceu às comunidades de Alto Alegre e Base, entre os Municípios de Horizonte e Pacajus, de Lagoa das Pedras e Encantados do Bom Jardim, em Tamboril, e de Sítio Arrusa, entre os Municípios de Araripe e Salitre. O Incra identificou 476 famílias remanescentes de quilombos nesses três territórios que somam 2.882 hectares.

As três portarias foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) no dia 15 de fevereiro e encerram a fase de análise e julgamento de contestações dos estudos antropológicos, agronômicos e cartográficos já realizados pelo Incra.

Os estudos de cada território foram reunidos em documentos chamados Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID), publicados no DOU e no Diário Oficial do Estado (DOE), entre dezembro de 2008 e dezembro de 2010, quando foram abertos os prazos para contestações. Assim, o Instituto publica uma Portaria de Reconhecimento delimitando os limites das áreas. Agora, os três territórios terão regularização fundiária, processo que vai da desapropriação dos não pertencentes à comunidade, desintrusão e titulação da terra.

No Ceará, estão em andamento 26 processos de reconhecimento e identificação de territórios quilombolas. Desses, dez estão em estágios mais adiantados para a titulação das terras, sendo os três territórios recém-definidos em situação mais avançada.

Processos

Há muito se sabe da presença e preservação cultural de comunidades negras no Ceará advindas da luta de escravos fugidos em busca de liberdade. O que faltava era um reconhecimento legal. Os atuais processos em fase "avançada" acontecem tardiamente, pois só há pouco mais de dois anos o Incra no Ceará possui um antropólogo para fazer os levantamentos junto às comunidades. Esse profissional das Ciências Sociais é responsável por acompanhar e registrar o processo de auto-reconhecimento dos povos como quilombolas.

"Esses foram os três primeiros reconhecidos como comunidades quilombolas, outras estão no mesmo processo", afirma o antropólogo José da Guia. Ele trabalhava no Incra em Roraima, e foi remanejado para o Ceará devido à forte demanda deste Estado. "Mas, até agora, os processos de reconhecimento estão pacíficos", afirma Mário Evaristo, da divisão de regularização fundiária do Incra. Mas ele admite que os processos de desapropriação e desintrusão são os mais delicados. Existe o potencial de conflito no território pertencente à comunidade de Alto Alegre (Horizonte), pois existem loteamentos imobiliários, inclusive com casas já construídas.

Há alguns processos de reconhecimento quilombola no Ceará suspensos a pedido das próprias comunidades. É o caso da comunidade de Bastiões, em Iracema (região jaguaribana). A notícias de que ali se faria reconhecimento e delimitação de terras causou forte reação de algumas famílias não-negras que ali moram ou têm casas de veraneio.

O Ministério Público Federal questionou o Incra quanto à interrupção do processo. "Os processos não foram arquivados. Estamos estabelecendo um diálogo de esclarecimento", diz o antropólogo José da Guia. Ele acredita que um erro de interpretação possa causar conflitos nas áreas em estudo.

"O que verifico são os critérios de pertencimento à comunidade", frisa, para ilustrar que se há casos de não-negros que têm vínculo sanguíneo ou de casamento, por exemplo, com a comunidade. Esses grupos tendem a ficar e ser declarados pertencentes aos quilombolas.

Desde 2003, o Incra é o responsável pela titulação dos territórios quilombolas no Brasil. Os processos se iniciam quando a comunidade solicita abertura de processo administrativo. A comunidade deve estar registrada na Fundação Cultural Palmares, que emite uma Certidão de Auto-reconhecimento.

Mais informações

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)

Avenida José Bastos, 4700,

Couto Fernandes - Fortaleza

Telefone: (85)3299-1326

MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER

Um dos manifestantes passou mal e morreu sem atendimento


Da Agência Brasil

Cerca de 500 índios da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe ocuparam 46 fazendas próximas
ao município de Itaju de Colônia, no sul da Bahia. O objetivo é pressionar
o STF (Supremo Tribunal Federal) a julgar a demarcação da TI (Terra
Indígena) de Caramuru-Paraguaçu, área que abrange todas as fazendas.

Segundo o delegado da PF (Polícia Federal) Fábio Marques, os conflitos
começaram no dia 15, na quarta-feira anterior ao carnaval.

- No começo, foram invadidas sete fazendas e, no momento, esse número
aumentou para 46.

De acordo com os índios, todas as fazendas estão dentro das áreas previstas
para a demarcação da TI, acrescentou o delegado.

A Funai (Fundação Nacional do Índio) diz que a área em questão foi
demarcada em 1937 pela Diretoria de Serviço Geográfico do Exército e que,
desse modo, os invasores seriam os fazendeiros. A Funai informou ainda que,
em 1982, entrou com ação de nulidade de títulos das fazendas, mas ressaltou
que, até o momento, nada foi julgado pelo Supremo.

Em meio à confusão instalada na região, um índio passou mal e morreu,
supostamente em decorrência de ataque cardíaco.

- Antes do Carnaval, o funcionário de uma das fazendas foi baleado e está
internado. Posteriormente, um índio passou mal, provavelmente do coração.
Os índios alegam que não puderam levá-lo para atendimento médico porque
foram cercados pelos fazendeiros, que, por sua vez, negam o ocorrido.

O índio acabou morrendo no local. De acordo com o delegado, o corpo foi
retirado por uma funerária e encaminhado a Itabuna, onde serão feitos
exames de corpo de delito.

Em nota, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) informa que o índio
falecido é José Muniz de Andrade, de 40 anos, um dos líderes do grupo. Ele
estava em área "recentemente retomada" na região das Alegrias, quando
começou a sentir dores no peito e no estômago, diz a nota. "Um carro foi
enviado para prestar socorro, mas impedido de acessar a área retomada para
prestar socorro”, acrescenta o Cimi.

Chefe da Coordenação Técnica da Funai no município de Pau Brasil, Wilson
Jesus diz, na nota do Cimi, que "tudo indica que tenha sido enfarte a causa
da morte. No entanto, está claro que os jagunços impediram a passagem para
o atendimento médico".

O conselho denuncia a presença de jagunços contratados pelos fazendeiros na
região, mas a PF não confirma.

- Fizemos diligências e não confirmamos nem índios, nem pistoleiros armados
na região. As duas partes têm nos informado sobre a ocorrência de conflitos
mas [além desses dois casos, envolvendo o funcionário baleado e o líder
indígena supostamente enfartado] nada foi confirmado. Provavelmente não
passam de boatos.

Segundo ele, ontem (24) ocorreram boatos de que os índios estariam se
preparando para invadir a cidade de Colônia e saquear o comércio, a fim de
adquirir mantimentos.

- Isso já foi desmentido nas conversas que tivemos com as lideranças e com
representantes da Funai.

Apesar de evitar o envio de policiais militares a terras indígenas, o
governo da Bahia acabou acionando efetivos da Polícia Militar para garantir
a segurança na cidade. A chefe da Delegacia da Polícia Federal de Ilhéus,
Denise Dias de Oliveira Cavalcanti, vai pedir reforços à Superintendência
da PF em Salvador. A unidade de Ilhéus conta apenas com dez policiais
federais. Marques fala sobre os próximos passos.

- Não é a primeira vez que os índios fazem manifestações desse tipo na
véspera do Carnaval. Em 2009, houve, no mesmo período, uma ação parecida.
Mas, com a chegada dos reforços, a situação se acalmou. Agora vamos
aguardar a decisão judicial de reintegração de posse. Eventuais crimes
cometidos durante a invasão serão investigados.

Situação das terras dos índios Xucurus-Kariris será debatida entre órgãos


Fran Ribeiro

Para discutir a situação da demarcação das terras dos índios
Xucurus-Kariris, o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT) convocou para a
próxima terça-feira (28) às 9h, uma reunião para achar soluções pacíficas
sobre o assunto.

Estarão presentes no auditório térreo da Assembleia Legislativa de Alagoas
(ALE), superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), Lenilda Lima, o coordenador Regional da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Frederico Campos, o procurador da República de Arapiraca,
José Godoy, além da presença de deputados da Casa Tavares Bastos.

De acordo com Medeiros, que convocou o encontro, a reunião tem o objetivo
de achar uma solução que atenda todas as partes envolvidas.

“Nos últimos anos tem havido muitos conflitos entre fazendeiros e donos de
terras com os grupos indígenas, pela posse da terra. Fiz o convite a todos
esses segmentos para que a gente discuta a situação dos índios Xucurus-
Kariris e que haja uma transição pacífica na questão da demarcação das
terras, já que é uma determinação da Justiça”, observou o deputado.

**com Assessoria.*

NOTA SOBRE MORTES DE JOVENS KARAJÁ


A equipe do Museu Antropológico e da Faculdade de Ciências Sociais que realizou pesquisa etnográfica sobre as bonecas Karajá, recentemente registradas como patrimônio cultural imaterial brasileiro, vem a público manifestar sua preocupação com as recentes mortes de jovens Karajá, ocorridas especialmente na aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, TO.
Consideramos a situação como de extrema gravidade, por se tratar de sucessivos suicídios de jovens do sexo masculino de até 22 anos, em geral, associados ao uso de bebidas alcoólicas e também de casos suspeitos de consumo de outras drogas, como o crack. Segundo informes de uma liderança indígena de Santa Isabel do Morro e de familiares das vítimas, nos últimos meses, sete jovens morreram depois de se enforcarem, além de duas outras tentativas.
Entendemos que é urgente a constituição de uma força-tarefa composta por integrantes da Associação Brasileira de Antropologia, FUNAI, FUNASA, Ministério Público, Ministério da Saúde, Ministério dos Esportes, em parceria com as lideranças tradicionais e de jovens indígenas que atuam nas aldeias – como é o caso dos professores e dos agentes de saúde – para juntos discutirem e proporem medidas contínuas a curto, médio e longo prazos.
Esta situação, de quase calamidade pública, interliga complexos aspectos internos da sociedade Karajá aos problemas decorrentes do contato interétnico. Acreditamos que as discussões e propostas devem considerar as dimensões mais amplas da saúde, da sustentabilidade econômica e de valorização dos saberes tradicionais do povo Iny, bem como as motivações, habilidades e competências das jovens lideranças.
A grave situação demanda a implementação imediata de medidas de apoio às famílias atingidas com a constituição de uma equipe multidisciplinar de saúde que possa fazer um acompanhamento direto das pessoas envolvidas.
Para além dessas medidas emergenciais, entendemos que é preciso implementar programas de inclusão social, baseados na valorização da cultura Karajá e dos saberes tradicionais do povo Iny, e que levem em conta as motivações, habilidades e competências de lideranças e profissionais jovens indígenas que atuam nas aldeias, como é o caso dos professores e dos agentes de saúde. Santa Isabel do Morro é uma das aldeias mais populosas e tradicionais do povo Karajá, tendo hoje uma população aproximada de 700 habitantes. Juntamente com Fontoura é uma referência para as demais aldeias, pela efervescência das suas práticas rituais, domínio da língua materna por todas as gerações, existência de exímios especialistas em diversas modalidades de trabalho artístico e artesanal, conhecimentos refinados da cosmologia Karajá, do território e de seus recursos naturais.
É uma aldeia reconhecida pela quantidade de anciãos detentores de uma sabedoria ancestral e de um profundo conhecimento histórico sobre a trajetória do seu povo e de sua cosmologia, os quais são, muitas vezes, convidados a colaborar com outras aldeias Karajá como especialistas em programas de valorização da cultura e da identidade Karajá.
Por um lado, existe um potencial educativo na sabedora ancestral dos anciãos, geralmente comunicada e transmitida pelas práticas rituais, pelas narrativas míticas, pelos exemplos cotidianos e convívio entre as gerações. Por outro, existem nestas comunidades brilhantes jovens, que dominam o saber escolar, atuam em organizações indígenas não-governamentais e participam de programas de formação universitária e que são capazes de transitar entre o universo Karajá e o mundo externo assim como de incorporar inovações tendo como base suas referências culturais.
Sugerimos também que as instituições governamentais, integrantes dessa força tarefa, viabilizem financeira e administrativamente:
1.  Políticas de apoio a projetos que contemplem as diferentes modalidades de trabalho artesanal envolvendo a participação dos jovens, não só como principais responsáveis pela continuidade desses saberes e práticas no futuro, mas também como possibilidade de inclusão desses jovens, preocupação recorrentemente observada nas falas de lideranças e famílias Karajá. As atividades artesanais são de fundamental importância para as comunidades Karajá, pois além de representarem um significativo complemento de renda familiar, são também utilizadas como instrumentos educativos na socialização de jovens e crianças, bem como na busca de legitimidade política e de reafirmação da identidade Inў.
2.  Programas esportivos e de lazer com ênfase nas modalidades tradicionais próprias do contexto sociocultural Karajá, tais como as lutas corporais praticadas em competições associadas às cerimônia do Hetohokў, ritual de iniciação dos meninos à vida adulta; além de vários outros jogos e brincadeiras praticados cotidianamente em suas comunidades, como o futebol e o voleibol;
3.  Ações de incentivo às atividades produtivas baseadas no conhecimento, uso e gestão sustentada dos recursos naturais disponíveis no próprio território Karajá. O turismo regional baseado na pesca e no uso das praias do rio Araguaia, que ocorre anualmente na região, também deve ser levado em conta, uma vez que agrava a faceta destrutiva do contato interétnico contribuindo para o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, de drogas e de contágios por doenças sexualmente transmissíveis e acirrando os conflitos internos às aldeias, ao mesmo tempo em que também contribui para a ampliação da demanda por produtos artesanais confeccionados pelos Karajá e para o incremento da renda das famílias.
Um dos pontos fundamentais a ser pensado por esta força-tarefa é a constituição de um grupo de trabalho interdisciplinar, que possa a médio prazo produzir um estudo sistemático sobre as experiências de alcoolismo e suicídio de jovens Karajá. Somente a compreensão deste fenômeno, ainda não aprofundado no campo da antropologia, poderá subsidiar ações que a médio prazovenham contribuir para a atenuação do sofrimento ora vivenciado pelo povo Karajá.
Finalmente, considerando a nossa experiência recente de trabalho e interlocução com a aldeia Santa Isabel do Morro, especialmente com as famílias das ceramistas, em nome do Museu Antropológico, da Faculdade de Ciências Sociais da UFG e da equipe que executou o projeto Bonecas Karajá: arte, memória e identidade indígena no Araguaia, ressaltamos a nossa solidariedade às famílias desta aldeia. Também reafirmamos o nosso compromisso com o povo Karajá, ao mesmo tempo em que nos colocamos à disposição para contribuir com as discussões e possíveis projetos e ações voltados para a busca de solução dos problemas ora enfrentados por ele.

Edna Luisa de Melo Taveira
Manuel Ferreira Lima Filho
Nei Clara de Lima
Patrícia de Mendonça Rodrigues
Rosani Moreira Leitão
Telma Camargo da Silva

III Congreso Latinoamericano de Antropología Antropologías en Movimiento Ideas desde un sur contemporáneo


La Asociación Latinoamericana de Antropología (ALA) y el Colegio de
Antropólogos de Chile invitan al Tercer Congreso Latinoamericano de
Antropología “Antropologías en Movimiento: Ideas desde un sur
contemporáneo”, a realizarse en Chile en las ciudades de Santiago (Congreso
Central) y Temuco (reuniones post - congreso) del 5 al 9 de noviembre de
2012. El congreso es organizado por la Universidad de Chile, Universidad
Católica de Temuco, Universidad Academia de Humanismo Cristiano,
Universidad Arcis, Universidad Alberto Hurtado y Universidad Austral de
Chile.

Esta tercera versión del Congreso busca abordar de forma amplia el
movimiento, noción que invita a dialogar acerca del quehacer antropológico
en América Latina y el mundo, analizando sus trayectorias pasadas,
presentes y futuras. El concepto de movimiento hace referencia a diversos
campos de estudio. El desplazamiento de personas, las transformaciones
sociales y culturales, así como la emergencia de identidades que
constituyen temáticas antropológicas importantes planteando entre otros el
problema del dinamismo y la interacción.

Mediante esta circular se invita, en primer lugar, a la presentación de
simposios. El plazo de entrega es hasta el 10 de marzo de 2012. Cada
propuesta debe presentar un título, un objetivo general, cinco palabras
claves, un resumen de 300 palabras y un resumen del currículo de quienes
proponen el simposio. Cada propuesta debe contar con una cantidad
preliminar de cinco expositores. Cada expositor debe tener el grado mínimo
de licenciado o equivalente, debe presentar un título de su ponencia y un
resumen de 300 palabras. El número máximo de ponencias por simposio es
limitado y será comunicado en una próxima circular. Las propuestas serán
evaluadas por el Comité Académico del congreso, que tiene el derecho de
aceptar, pedir modificaciones o rechazar los simposios en base a su calidad
y relevancia.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Carta das lideranças Tupinambá da Bahia


Por: Racismo Ambiental
União – Campo, Cidade e Floresta
“Nós, Tupinambá da Aldeia Tukumã , próximo ao Lençóis do Município de Una, fomos surpreendidos pela Polícia Federal hoje, quarta–feira, 1 de janeiro, às 6:00 hora da manhã, com as ações de violência para cumprimento do mandato de reintegração de posse por um grupo do Estado de São Paulo que se diz supostos donos da Aldeia Indígena TuKumã.
Chegaram empurrando a porta, colocando todos como refém sem o menor respeito com as crianças, anciões, inclusive um adolescente de 15 anos, Kálisson, foi obrigado a entrar no camburão se não iam algemá-lo, e começou a insultar as pessoas destratando como animais selvagens.
Colocaram todos os homens pra fora com força e abuso do poder, deixando só as mulheres e deu prazo de meia hora pra retirarem os pertences, ou iam demolir em cima de todos e tudo o que tinha dentro, deixando todos em pânico.
Foram obrigados a entrarem no Camburão, inclusive um professor do IFBA que veio em apoio solidário, foi colocado na parede como bandido para ser revistado e o parente por nome de Eugênio Crispim, que cantou uma música do ritual, foi retirado bruscamente pelo braço e obrigado a ajoelhar com as mãos na nuca sobre a mira de armas como se fosse um marginal.
Nesse momento chovia muito e ele obrigou a Crispim mostrar os documentos que ficou por duas horas ajoelhados. Aos poucos foram  liberando pessoas e duas Lideranças – Katiúscia e Jailson – ficaram detidos até  assinar o documento de  reintegração  de posse; os dois foram forçados a  assinarem outros documentos que não condiziam com a ação, e ainda  sobre ameaça de prisão e pressão psicológica.
Foram 25 casas, 01 galpão, 01 casa de farinha, roças de mandioca, roça de amendoim, roças de  mamão, roças  de maracujá, roças de  melancia, roças de  feijão de corda, roças de milho, roças de  banana e outras frutas como: abacate, jamelão , laranja e ainda criação de 150 galinhas coletivas, 02 cavalos que pertenciam a comunidade.
A Liderança Paulo de Jesus dos Santos (Paulo  Masykas)  afirma as injustiças e quer entender o por que a Funai diz que tem direito a ocupar a terra e quando estamos dentro trabalhando no sustento de nossas famílias somos obrigados a sair sem direito a nada e vendo tudo que foi construído ir por água abaixo, e quem vai pagar por esses danos morais e materiais? Será que não temos direitos ou é discriminação?
A Liderança Rosilene diz: que apesar do transtorno e da agonia  receberam apoio de todas Lideranças Tupinambá e  outras pessoas de fora que estavam na praia próximo a Aldeia também  vieram em solidariedade e a polícia federal aproveitou pra dizer que estavam índios e não índios. E na verdade o que a polícia Federal quer é desmoralizar e dizer que não há indígena.
Neste momento pedimos que as organizações e instituições  parceiras se juntem a nós para que sejam tomadas as devidas providências sendo em caráter de urgência as que se seguem:
De um procurador federal pra acompanhar os processos do Povo Tupinambá de Olivença
A  Anulação  das liminares de reintegração de posse
Visita urgente do Presidente da Funai  e da comissão de Direitos Humanos que vem acompanhando os processos.
Andamento do processo administrativo de Demarcação do Território Tradicional do Povo Tupinambá de Olivença.
Reparação e indenização  de danos materiais e morais.
Inventário das produções agrícolas e das criações que foram deixados in loco.

Atenciosamente,
Lideranças da Aldeia Tukumã”

Há 100 anos, “Operação Xangô” destruía terreiros; hoje governo de Alagoas pede perdão


Há 100 anos, Maceió vivia noite de terror com invasão e depredação de templos religiosos e espancamento de negros e adeptos do candomblé
Foto de Tércio Capelo
O governador do estado de Alagoas, assinou nesta quarta-feira (1º), às 17h 30, um pedido de perdão oficiala todas as comunidades de terreiros de Alagoas, pelas atrocidades que marcaram o dia 1º de fevereiro de 1912, conhecido como a Quebra do Xangô ou Quebra de 1912. A assinatura foi feita no final do cortejo popular, marcado para sair às 15h da Praça D. Pedro II, pela Rua do Sol até a Praça dos Martírios, trecho que era considerado importante ponto de confluência de terreiros de Maceió.
Alagoas lembra, nesta quarta-feira (1º), os cem anos do dia em que – nas vésperas do Carnaval – uma massa de populares, liderada por veteranos de guerra e políticos, invadiu, depredou e queimou os principais terreiros de Xangô em Maceió, espancando líderes e pais de santo dos cultos afros. Considerada um dos mais emblemáticos casos de racismo e intolerância religiosa do Brasil, a noite fatídica daquele 2 de fevereiro de 1912 ficou conhecida como “O Quebra de Xangô”.
O movimento foi organizado por integrantes da Liga dos Republicanos Combatentes em Maceió, sob a liderança do sargento do Exército Manoel da Paz, veterano da guerra de Canudos, na Bahia. “Muitos foram pegos de surpresa e apanharam pelas ruas até chegar à delegacia, na calada da noite. Outros tiveram a oportunidade de fugir para estados como Bahia, Pernambuco e Sergipe”, assegura o professor de História e pesquisador Célio Rodrigues, o “Pai Célio”, um dos grandes difusores da religião de matriz africana no Estado.
Também denominada como Operação Xangô, o movimento tinha um forte viés político com o objetivo de afastar do poder o então governador do Estado, Euclides Malta, que já administrava Alagoas por 12 anos seguidos e era considerado um amigo dos líderes religiosos massacrados.
Imprensa oposicionista
Na época do Quebra, o movimento que desencadeou a postura intolerante contra a religião de matriz africana contou com o apoio da imprensa oposicionista, notadamente o Jornal de Alagoas. Nos trechos de seus artigos e matérias, termos pejorativos sempre eram direcionados ao governador por este se relacionar com os xangôs. Na série de matérias intituladas “Bruxaria”, publicada nos dias consequentes ao episódio, a suposta relação de Euclides Malta com os xangôs denota a mãe de santo Tia Marcelina como sua “feiticeira” protetora.
Segundo as referidas reportagens, o “nefasto governo” de Euclides Malta e as ditas “casas de feitiçaria barata” encontravam-se extremamente difundidas pela cidade de Maceió e se relacionavam “na mais estreita afinidade”. De acordo com o jornal, “sabia-se que a grande força em que o “inepto oligarca” apoiava o seu governo era o xangô e, com essa confiança no fetiche ignorante, mantinha em completa debandada todos os outros poderes orgânicos do Estado”, diz um trecho da publicação em sua edição de 4 de fevereiro.
É notável a descrição de cunho pejorativo de um suposto ritual relatado pelo Jornal de Alagoas na época: “Na casa da Tia Marcelina, a mais frequentada pelo Sr. Euclides e os seus amigos, (em culto) realizado próximo às novas eleições, Tia Marcelina teria pressentido a vitória do adversário de Euclides Malta. Ela preparou a sessão, de acordo com o chefe, e, às 8 horas mais ou menos, o Soba (espécie de chefe de tribo) entrou nessa casa, em uma das ruas mais esconsas da Levada, acompanhado de um dos seus áulicos, que bem conhecemos. Os trabalhos já haviam principiado e a negra mãe de santo, modulando sorrisos de megera, olhares esgazeados de víbora saciada, correu com a mão o reposteiro de uma saleta contígua e lá ficou o ‘Ogum-taió’ da Praça dos Martírios, guardado às vistas dos seus irmãos e do pessoal que na rua avidamente olhava as danças e os requebros da Tia Marcelina”.
Tia Marcelina, segundo os historiadores, foi a fundadora do candomblé em Alagoas e a então mais famosa mãe de santo do Estado, tida como espécie de mentora espiritual do governador Euclides Malta. De acordo com os relatos, ela teria resistido à invasão de seu terreiro e recebido golpes de sabre – espécie de espada – enquanto lutava contra o ataque. A líder negra não resistiu e morreu meses depois.
Viés político
Na linha de frente do movimento que provocou o Quebra de Xangô, estavam políticos locais, como Clodoaldo da Fonseca, então candidato a governador na época; Fernandes Lima, seu vice; e Manuel da Paz, o sargento militar responsável pela liderança da Liga e da devassa aos terreiros alagoanos.
“Foi uma perseguição ao governador Euclides Malta, que tinha ligação com os terreiros e havia recebido até o título de papa do xangô alagoano, o Soba. O interessante é que Euclides era um fervoroso católico”, conta o historiador, médico e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), Fernando Gomes.
No fim das contas, a oposição conseguiu destituí-lo e, com isso, a Liga dos Republicanos Combatentes – junto com o apoio popular – fez cair sobre os terreiros toda a fúria nos centros.
De acordo com Gomes, o episódio do Quebra de Xangô teve grande importância para apressar a renúncia de Euclides Malta, que aconteceu em 13 de março de 1912. “Em 12 de julho de 1912, Clodoaldo Fonseca, figura de relevo nos quadros do Exército e primo-irmão de Hermes da Fonseca, é empossado governador, juntamente com o vice José Fernandes de Barros Lima”, completa o vice-presidente do IHGAL.
“Os relatos são de que a multidão induzida pela Liga entrou quebrando tudo que via pela frente, no auge do ritual, quando alguns seguidores ainda tinham o santo na cabeça. Bateram nos filhos de santo e queimaram objetos sagrados numa grande fogueira”, diz Fernando Gomes.
O pesquisador Célio Rodrigues acrescenta que foi uma perseguição também aos negros em geral. “Essa Liga foi feita para dizimar as religiões de matriz africana e, por tabela, os negros, pois naquela época Maceió era habitada por muitos ex-escravos e seguramente uma das maiores cidades negras do Brasil”, defende ele.

Fonte: Brasil de Fato com informações da Agência Alagoas
Postado por Érika