domingo, 21 de novembro de 2010

Apresentação do Professor Ronaldo no PET de A a Z


Nós do PET - Antropologia estamos convidando toda a comunidade acadêmica para a última reunião do PET de A a Z no ano de 2010. Vamos continuar com a programação em 2011 e desde já sintam-se todos convidados.
Nossa última palestra então ocorrerá no próximo dia 24 de novembro, às 14 horas, na Sala 15 do CH. O professor Ronaldo Sales vai discorrer sobre a pesquisa de doutorado que gerou a publicação em formato de livro, que na ocasião estará sendo lançado.
Segue-se então um resumo do livro, para conhecimento da comunidade.


Resumo do livro:

SALES JR, Ronaldo L. Raça e Justiça: o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo de justiça. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massagana, 2009.

O objetivo do livro é mostrar como o Mito da Democracia Racial interfere nas decisões tomadas no sistema jurídico. O "Mito da Democracia Racial" é considerado um dispositivo ideológico de reprodução das relações raciais, impedindo sua tematização pública. Efetiva-se através de duas formas de discurso: o desconhecimento ideológico das relações raciais e o não-dito racista. O "Mito da Democracia Racial" instaurou-se pelo deslocamento do discurso racial (racista ou não) do âmbito do discurso "sério" (argumentativo, racional, formal e público), constituindo o que estamos chamando aqui de desconhecimento ideológico. O desconhecimento não é "ausência" de conhecimento, ignorância passiva, mas, demarcadas as questões relevantes, marginaliza saberes tidos como irrelevantes, falsos problemas, sem-sentidos. O discurso racial, então, entrincheirou-se no discurso "vulgar" (aforismático, passional, informal e privado), através da forma do não-dito racista que se consolidou, intimamente ligado às relações "cordiais", paternalistas e patrimonialistas de poder, como um pacto de silêncio entre dominados e dominadores. O não-dito é uma técnica de dizer alguma coisa sem, contudo, aceitar a responsabilidade de tê-la dito, resultando daí a utilização pelo discurso racista de uma diversidade de recursos tais como implícitos, denegações, discursos oblíquos, figuras de linguagem, trocadilhos, chistes, frases feitas, provérbios, piadas e injúria racial.

Currículo do autor:
Ronaldo Laurentino de Sales Júnior - graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1998), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2001) e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2006). Professor Adjunto I (desde 2009) e Coordenador de Pesquisa e Extensão (2010) da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais, Direito e Filosofia da Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Sociologia Política, com ênfase em Políticas Públicas, atuando principalmente nos seguintes temas: relações étnico-raciais, movimentos sociais negros, ações afirmativas, direitos humanos e desenvolvimento.


Abraços.

Ronaldo.




Resumo da Apresentação do Professor Ronaldo Sales

POLÍTICAS DE ANCESTRALIDADE E TERRITORIALIDADE URBANA:
negritude e africanidade nas políticas públicas.
Ronaldo Sales Jr.
Resumo expandido

Os movimentos sociais negros incorporam em suas narrativas políticas as comunidades religiosas de matriz africana como parte das lutas de emancipação negro-africana no Brasil. A identidade “negro-africana” articula as diversas identidades sociais, políticas ou religiosas do campo afro-brasileiro. A ancestralidade, como relação entre “negritude/africanidade”, converte-se em lugar de uma tensão inerradicável, conformando as demandas dos movimentos religiosos afro-brasileiros como religiões “territoriais” em sua luta pelo uso do espaço urbano. O “retorno à África” é um modo de territorialização diaspórica do espaço urbano, influenciando a organização política dos movimentos religiosos, a formulação de suas demandas sociais e a implantação das políticas públicas. Contudo, a construção dessas demandas e das políticas se dá fortemente influenciada pelos discursos políticos dos movimentos sociais negros e do Estado. A demanda política das religiões não é a mera expressão política de sua "natureza territorial", muito menos, a formulação e a implantação das políticas são a mera transferência dessa demanda para o campo do Estado. Há transformações significativas que ocorrem nos percursos de constituição da representação política de uma identidade religiosa, transformações que têm um efeito de feedback sobre essa última. Os programas de ações afirmativas surgiram e têm se desenvolvido em um contexto de democratização associada à crise econômica crônica, com taxas anuais de crescimento baixíssimas, possibilitando aos atores políticos olharem o paradigma desenvolvimentista vigente de fora e identificarem seus problemas e suas deficiências mais graves. Ademais, combinou-se um esvaziamento do discurso classista da esquerda e um reconhecimento da incapacidade do anti-estatismo privatista da primeira metade dos anos 90 para resolver os problemas da desigualdade e pobreza alarmantes. Enquanto os programas de liberalização econômica avançaram e a instabilidade financeira e as crises debilitaram o crescimento sustentado, ampliando as desigualdades entre e interna aos países, identidades raciais, étnicas, religiosas e culturais adquiriram maior relevância na arena política. Simultaneamente, a intensificação do fluxo de imigrantes africanos e asiáticos para países europeus, foi seguida do crescimento do racismo, da xenofobia e do nacionalismo entre os cidadãos daqueles países. Em resposta, foi-se articulando um discurso da inclusão social, a partir de fontes diversas nem sempre mutuamente compatíveis. As ações afirmativas, então, apresentam-se como uma das iniciativas viáveis nestas condições contextuais. Do ponto de vista global, as políticas de inclusão social e multiculturais tornam-se valorizadas. A agenda “negra” constitui-se, então, da conjunção de duas estratégias políticas: a) a valorização da religião afro-brasileira como patrimônio histórico e cultural regional, nacional e internacional, considerada parte de uma política de reparação ou de promoção da igualdade racial; b) a luta contra a intolerância religiosa, tida como uma modalidade da discriminação étnico-racial.


Postado por: Maria da Conceição Bezerra dos Santos

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