quinta-feira, 19 de maio de 2011

O poético militante Solano Trindade





O artista estava onde o povo estava por que, sendo ele fruto da
classe popular, fez de sua obra literária o espaço de voz e de ação desse sujeito,
primando por reconstruir a história e imagem do Brasil , a partir do ponto de vista do negro.

Em “Sou negro”, Solano Trindade elabora sua árvore genealógica, recorrendo a
elementos da ancestralidade africana como “tambo res, gonguês e agogôs”, enaltecendo
a atitude de revide do negro diante do subjugamento e evidenciando as guerras e
revoltas acontecidas que vêm desmitificar a imagem estigmatizada do negro
condescendente e abnegado:


Meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh’alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs.
(...)
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
era valente como quê
na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
não foi um pai João
humilde e manso.
(...)
Na minh’alma ficou
O samba
O batuque
O bamboleio
E o desejo de libertação. (O poeta do povo, p. 48)


Nos poemas de Solando Trindade o protesto e engajamento pela palavra
frente aos problemas sociais, a posição de abdicação dos afetos, das glórias individuais
em razão de, primeiro, alcançar os frutos da luta coletiva, da justiça social, quando só
então o eu poético será pleno e capaz de amar, criar e sorrir.



Eu ia fazer um poema para você
mas me falaram das crueldades
nas colônias inglesas
e o poema não saiu
ia falar do seu corpo
de suas mãos
amada
quando soube que a polícia espancou um companheiro
e o poema não saiu
(...)
perdão amada
por não ter construído o seu poema
amanhã esse poema sairá
esperemos. (Antologia..., p. 30)



Por fim, esse breve comentário, presta -se a uma homenagem a Solano Trindade
que, dentre outros da literatura brasileira, compreendeu o fazer literário e a arte em geral
como modo de ser e de viver em prol da justiça e da igualdade, e com isso nos legou
uma poética afro-descendente substancial e vigorante na literatura brasileira.


Retirado:Africanidades - www.africaeafricanidades.com

Postado por:
Carolina Albuquerque

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