quinta-feira, 21 de abril de 2011

Filosofia e Direitos Humanos:Onda de Sonhos

"Leve flores aos que falharam"

No dia 11 de novembro de 1942, as tropas alemãs e italianas ultrapassaram a linha de demarcação das regiões de paz e invadiram a parte ainda não ocupada do território francês, quebrando o armistício de 1940. Um dia antes, Hitler havia em vão convidado a França a lutar contra ingleses e norte-americanos.

Os franceses reagiram com veemência. Embora o marechal Pétain tentasse atenuar os efeitos da ocupação, através de concessões, os impulsos de resistência vieram rapidamente à tona em todo o país. Os patriotas franceses fundaram o maquis, o exército da Resistência, que se mantinha escondido em regiões intransitáveis, para dali empreender ataques armados contra o regime nazista alemão.

A seguir mostramos duas cartas contidas no livro CARTAS DE FUZILADOS, de dois grandes homens que lutaram pela liberdade de seu país.

CARTAS DE FUZILADOS


Que tempos são estes,

Em que uma conversa sobre árvores

É quase um crime, porque inclui

Um silêncio sobre tantos malefícios...


Bertolt Brecht




Os autores das cartas reunidas neste livro, fuzilados ou decapitados, escreveram-na poucas horas _ por vezes minutos_ antes de serem entregues ao suplício. Quem pensaria, um tal momento, em procurar a destreza das frases, da musicalidade das palavras? Quem escreve sabe que não voltará a escrever. Na simplicidade do Adeus, diz o que considera essencial acerca da vida e do sentido de sua morte. Revela-se assim, na sua verdade profunda. Esta recolha de carta é uma antologia do heroísmo e grandeza moral.

A edição CARTAS FUZILADAS é uma homenagem aos milhões de vítimas do nazi-fascismo, no 50º aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial.




MARCEL BERTONE

Nascido em 1921, de origem italiana. Ajudante de guarda-livros. Ferido durante a guerra de Espanha.

Preso em Outubro de 1939, evade-se em 1940.

Dirige um grupo dos Batalhões da Juventude quando é preso de novo a 18 de Dezembro de 1941. Fuzilado no dia 17 de Abril de 1942.

(À filha)

minha pequenina Hélène, quando leres esta carta a tua cabecinha começará certamente a compreender a vida. Terás pena de não ter ao pé de ti o teu papá que te teria feito feliz com a tua mamã. Minha Hélène, tens de saber um dia por que é que o teu pai morreu aos vinte e um anos, por que é que se sacrificou, por que é pareceu abandonar-te. Amai-te em todo o amor paterno de que um homem pode ser capaz. Sonhei belos sonhos de futuro para ti. Já nada posso fazer, mas tenho confiança na tua mamã que saberá substituir-me junto de ti. Minha querida Hélène, são duas horas e às quatro é preciso estar pronto. Tenho de me despachar.

Presta atenção e respeita as minhas vontades:

1º - Em tudo o que fizeres na vida, respeita a tua mãe, respeita a memória do teu pai. Se um dia faltasses ao respeito à tua mãe, fica certa de que se pudesse sabê-lo, sairia do túmulo para te censurar.

2º - Aprenda a conhecer os motivos pelos quais morri.

3º - Aprende a conhecer os que te cercam e julga as pessoas, não por aquilo que disserem, mas por aquilo que as vires fazer.

4º - Desenvolve a vontade, o desejo de transformação. Cultua o espírito de sacrifício pelas causas nobres e generosas. Não te deixes intimidar pelas coisas que pareçam convencer-te de que o teu sacrifício é vão, inútil.

5º - Apoia a tua mamã com o teu comportamento honesto; não lhe cries preocupações desnecessárias. Ajuda-a com todas as tuas forças, porque a vida para ela, foi semeada de sofrimentos amargos e trágicos.

6º - Se, na vida, não conheceres a riqueza, consola-te pensando que não é aí que está a fonte da verdadeira felicidade.

7º - Escolhe para marido um trabalhador honesto. Escolhe um homem generoso, terno, trabalhador, capaz de te amar.

Minha filha abraço-te em pensamento, não nos deram autorização para vos ver... Terá sido melhor assim?

Adeus, Hélène, o teu papá morreu gritando:

“Viva a França!”

Escrito na prisão de la Santé

17 de Abril de 1942, data da minha execução.

Marcel Bertone

Não baixes a cabeça, por o teu pai ter sido fuzilado.




PIERRE BENOIT

Estudante do Liceu Buffon. Em junho de 1942 faz parte do primeiro grupo de guerrilheiros da Resistência da região parisiense.

Fuzilado no Mont-Valérienno dia 8 de Fevereiro de 1943.

8 de Fevereiro de 1942

Meus queridos pais, meus amigos

É o fim! Vêm buscar-nos para o fuzilamento. Tanto pior. Morrer em plena vitória é um pouco humilhante, mas que importa1 o sonho dos homens está a realizar-se.

Mano, lembra-te do teu maninho. Até o final ele foi digno e corajoso, e não tremo mesmo diante da morte.

Adeus, minha mãezinha querida, perdoa-me todas as preocupações que te dei. Lutei por uma vida melhor. Talvez um dia me compreendas.

Adeus, meu velho papá. Agradeço-te teres sido atencioso comigo: guarda uma boa recordação do teu filho.

Totote, Toto, adeus, eu amava-os como aos meus outros parentes.

Mano, sê um bom filho. Tu és o único filho que lhes resta. Não faças asneiras.

Adeus a todos os que eu amava, todos os que me amavam, os de Nantua e os outros.

A vida será bela. Nós partimos cantando. Coragem. Não é assim tão horrível depois de seis meses de prisão.

Os meus últimos beijos para todos vós.

O vosso

Pierrot.

Retirado:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,401329,00.html
http://www.dhnet.org.br/memoria/index.html



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