terça-feira, 19 de abril de 2011

VOZES-MULHERES



A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.


"A reivindicação do lugar de mulher-sujeito que se auto-inscreve no poema é substancial na
obra de Conceição, produzindo uma literatura de empoderamento, onde por vezes a ironia
do discurso é voltada para um interlocutor masculino que representa o olhar sexualizado
lançado sobre a mulher negra-objeto, secularizada em nossa tradição literária, modelo com
o qual se rompe definidamente".

Retirado: Revista África e Africanidades - Ano III - n. 12 – Fev.

Por Carolina Albuquerque

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