terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mais de 4 mil índios vivem acampados em beiras de estradas


Mais de 700 famílias indígenas, ou cerca de 4 mil pessoas, vivem em acampamentos à beira de estradas nos estados do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De acordo com levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), são cerca de 90 acampamentos, onde os índios vivem de forma precária, semelhante aos dos sem-terra, mas em agrupamentos comparativamente menores. O Mato Grosso do Sul é o que reúne o maior número de acampamentos, 31, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 21, segundo o Cimi.
“As maiores dificuldades para os índios acampados é conseguir água potável e acesso à educação. Nas aldeias regularizadas são abertos poços artesianos, o que não acontece nos acampamentos”, afirma Silvio Raimundo, coordenador da Funai em Ponta Porã (MS) responsável por 30 mil índios em 12 municípios da região.
Segundo Raimundo, o número de índios acampados é bem maior se forem incluídos os que estão dentro de fazendas, à espera de regularização de terras. Raimundo estima em 5 mil a 6 mil os acampados apenas na região de Ponta Porã. Depois de dois anos fora de qualquer escola, 58 crianças do acampamento Ypo′y, no município sul-matogrossense de Paranhos, voltarão a estudar este ano graças a uma liminar obtida pela Funai, que obriga a prefeitura a providenciar vagas para as crianças indígenas e impede que o dono da Fazenda São Luís, onde o acampamento está instalado, impeça a passagem de ônibus escolar. Neste acampamento, segundo Raimundo, moram 70 famílias.
Agora, a Funai negocia com a prefeitura de Aral Moreira vagas em escolas para 88 crianças do acampamento Tekoha Guaiviry, área de conflito onde os índios foram atacados em novembro passado. O índio Nisio Gomes está desaparecido desde então.
“A situação é muito precária. Essas famílias vivem da cesta básica entregue pelo governo e nem a educação está garantida”, afirma o secretario geral da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner.
A falta de água potável aumenta o risco do surgimento de doenças. No Rio Grande do Sul, onde os acampamentos estão presentes em pelo menos 11 municípios, há registro de tuberculose. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados
sete casos da doença em índios de duas famílias acampados em Capivari do Sul (RS), diagnosticados no último semestre.
“Todos estão recebendo tratamento por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Capivari. No total, 38 índios guarani fazem parte do acampamento, no litoral gaúcho. Os outros indígenas desse acampamento também estão sob medicação preventiva devido ao contato com os doentes”, diz a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Segundo a Sesai, equipes prestam atendimento uma vez por semana nos acampamentos no Mato Grosso do Sul, que seriam apenas 20. Quanto ao fornecimento de água potável nos acampamentos, o órgão afirma que “a legislação não permite fazer qualquer obra ou investimento nestas terras, por não serem legalizadas”.
Além da situação irregular, os índios acampados não conseguem estabelecer lavouras, que complementam o sustento. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, as cestas básicas são distribuídas quinzenalmente pela Funai.
“Sem-terra, eles não tem como produzir nada. Entendemos que todas as soluções são paliativas até que se decida a questão principal, que é a ocupação definitiva de terras pelos diversos povos”, afirma Raimundo.

Por: Diário de Pernambuco
Da Agência O Globo

postado por Érika

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