domingo, 3 de março de 2013

Arthur Bispo do Rosário


"Arthur Bispo do Rosário perambulou numa delicada região entre a realidade e o delírio, a vida e a arte. Na tentativa de seguir passos e pistas, também eu peregrinei nessa estrada. E muitas vezes deixei-me perder no labirinto de Bispo", Luciana Hidalgo.



Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 14 de maio de 1909 ou, segundo outras fontes, 16 de março de 1911  – Rio de Janeiro, 5 de julho de 1989) foi um artista plástico brasileiro. 
Considerado louco por alguns e gênio  por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento  eugênico, o preconceito  e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil. A sua história liga-se também à da  Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcoólatras e desviantes das mais diversas espécies).

                                                                  Estátua do artista em sua terra natal, Japaratuba, Sergipe


Natural de Japaratuba, Sergipe, Arthur Bispo é descendente de escravos africanos, foi marinheiro na juventude, vindo a tornar-se empregado de uma tradicional família carioca.
Na noite 22 de dezembro de 1938, despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado Humberto Magalhães Leoni, a quem disse que iria se apresentar à Igreja da Candelária. Depois de peregrinar pela rua Primeiro de Março e por várias igrejas do então Distrito Federal, terminou subindo ao Mosteiro de São Bento, onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos. Dois dias depois foi detido e fichado pela polícia como negro, sem documentos e indigente, e conduzido ao Hospício Pedro II  (o hospício da Praia Vermelha), primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852, onde anos antes havia sido internado o escritor Lima Barreto (1881-1922).
Um mês após a sua internação, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, localizada no subúrbio de Jacarepaguá, sob o diagnóstico de "esquizofrênico paranoico". Aqui recebeu o número de paciente 01662, e permaneceu por mais de 50 anos.
Em determinado momento, Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais oriundos do lixo e da sucata que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista e comparados à obra de Marcel Duchamp. Entre os temas, destacam-se navios (tema recorrente devido à sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses  e objetos domésticos. A sua obra mais conhecida é o Manto da Apresentação, que Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Com eles, Bispo pretendia marcar a passagem de Deus na Terra.
Os objetos recolhidos dos restos da sociedade de consumo foram reutilizados como forma de registrar o cotidiano dos indivíduos, preparados com preocupações estéticas, onde se percebem características dos conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.
Utilizava a palavra como elemento pulsante. Ao recorrer a essa linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos, fragmenta a comunicação em códigos privados.
Inserido em um contexto excludente, Bispo driblava as instituições todo tempo. A instituição manicomial se recusando a receber tratamentos médicos e dela retirando subsídios para elaborar sua obra, e museus, quando sendo marginalizado e excluído, é consagrado como referência da Arte Contemporânea.


BISPO DO ROSÁRIO, de espada em punho, em sua “cama-nave” adornada



MANTO DA APRESENTAÇÃO (detalhe): ele passou parte da sua vida bordando a peça para usá-la no dia do Juízo Final






Em 1982 o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro expôs alguns exemplares do universo de Bispo numa coletiva reunindo presidiários, menores infratores e idosos, intitulada À margem da vida. A princípio ele não quis participar, mas depois cedeu algumas obras. Na época, o crítico de arte Frederico Morais ofereceu-lhe uma sala inteira para exposição no MAM, onde Bispo poderia se espalhar e se alojar por um tempo. Ele sequer pensou no assunto. Morreu na solidão de sua cela, em 1989, sem ver seu império classificado como obra de arte, percorrendo o mundo. Mas, aos olhos da crítica e do público, era já um artista.

Documentário em torno da vida do Bispo:



Fonte:
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/as_artes_de_arthur_bispo_do_rosario_imprimir.html
http://annafaedrichmartins.blogspot.com.br/2012/04/arthur-bispo-do-rosario.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bispo_do_Ros%C3%A1rio

Por:  Carolina Albuquerque

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